Especialista alerta para a importância do acolhimento respeitoso e do suporte psicológico às mulheres que enfrentam o luto gestacional

Perder um bebê é uma dor que não se mede. Uma mãe que sonhou, planejou, sentiu seu filho dentro de si, de repente, vê esse sonho interrompido. E, como se não bastasse o luto, muitas dessas mulheres são internadas ao lado de mães que acabaram de dar à luz bebês saudáveis. O choro dos recém-nascidos, a alegria dos familiares, o som das comemorações—tudo isso pode se tornar um gatilho cruel para quem acabou de perder o próprio filho.
Foi pensando nisso que a cidade de Goiânia deu um passo importante na melhoria do cuidado hospitalar. A Lei 11.303, sancionada em dezembro de 2024, determina que todas as unidades de saúde credenciadas ao SUS e da rede privada ofereçam leitos separados para mães que passaram por um nascimento de um bebê natimorto ou óbito fetal. A legislação também assegura o direito a um acompanhante e encaminhamento psicológico, caso necessário.
A psicóloga perinatal e especialista em luto Natália Aguilar explica que esse tipo de medida vai muito além do conforto hospitalar. É uma questão de respeito à dor dessas mulheres.
“Imagine uma mãe que acaba de perder o bebê, internada no mesmo quarto que uma mãe que está amamentando. É devastador. Esse tipo de situação pode agravar o sofrimento e aumentar os riscos de depressão, ansiedade e até transtorno de estresse pós-traumático. Separar os leitos não é um privilégio, é um cuidado mínimo que qualquer mulher nessa situação deveria ter,” afirma a especialista.
O luto gestacional ainda é um tema pouco discutido, mas quem já viveu essa dor sabe o quanto o acolhimento pode fazer a diferença. Infelizmente, a realidade em muitas cidades e hospitais pelo mundo ainda é a de um sistema de saúde que não considera esse sofrimento com a devida atenção.
“Essas mães não só precisam de um espaço onde possam viver sua dor com dignidade, mas também de suporte psicológico. Muitas saem do hospital sem qualquer orientação e acabam enfrentando esse luto sozinhas, sem saber como processar o que aconteceu,” reforça Natália.
A nova lei de Goiânia é um avanço, mas a luta não pode parar por aqui. Especialistas defendem que medidas semelhantes sejam implementadas em outras cidades e países, garantindo que nenhuma mãe enlutada passe por essa experiência sem o respeito e o acolhimento que merece. Afinal, a dor da perda já é grande demais para ser enfrentada sem cuidado.
Comments